segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Estética Sulina

Arma-se a noite e as pessoas quase que sistematicamente entram num processo inquietante em busca de abrigo.
A grande maioria reclamando do frio ou das mudanças repentinas de temperatura a que estamos expostos aqui no Rio Grande do Sul.
"Bom dia, boa tarde, boa noite...! Mas que frio, mas que coisa horrível, será que chove?!" É quase um vício. Parece que, impreterivelmente, a conversa deve ser iniciada desta forma, seguindo o tal "protocolo".
É uma queixa constante que oculta e mascara algo que é, em minha opinião, a maior característica do povo do Gaúcho. O verão se vai e o frio começa a surgir criando um cenário típico, com geada, neve e temperaturas desordenadas variando com intensidade. O desconforto físico acaba causando uma confusão "mental/psicológica" de que isto é ruim. A realidade é que isto fica embutido em nós e acabamos nos acostumando com a "idéia". Agindo assim acabamos deixando de aproveitar o que temos de graça e que faz parte do nosso cotidiano. Deixamos de aproveitar o clima, apreciar um bom vinho, uma comida típica, rodas de chimarrão e violão, as quais tanto aprecio.
O frio deveria ser o maior aglutinador da família. Sentar-se ao redor de uma lareira, um fogão à lenha ou até mesmo um fogo de chão. Sentir o gosto do café que tanto combina com o frio, não é?!
Não gostar do verão? Imagine. Muito longe disso. Gosto muito do verão. Apenas creio que nos identificamos muito mais com o frio. As pessoas ficam mais interessantes, convivemos mais com nós mesmos numa melancolia insistente de uma noite de inverno. Isso é triste, deprimente?! Talvez. Reflita comigo: artistas produzem mais na tristeza, solidão e sofrimento que causa uma introspecção absolutamente necessária. As maiores obras primas da humanidade surgiram nestes momentos. O frio impulsiona a alma a transformar o pensamento mais fútil e corriqueiro em uma viagem infinita para dentro de nós. E a inspiração surge no ato.
Quão arcaico isto seja, para mim é um orgulho perceber como novidade esta "estética" sulina que mantém e traduz a cultura do nosso estado, preservando a tradição apesar da descrença e do mundo global.
Mas que frio horrível, tchê!... horrível sim, apenas pra quem não sabe aproveitá-lo.

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